Aula 3 - Como desenvolver habilidades e competências (1/4)

| 1. Analisar | 2. Segmentar | 3. Sintetizar | 4. Comunicar |

Aprender a analisar a Informação

"A qualidade nunca é um acidente; sempre é o resultado do esforço da inteligência". (John Ruskin)

Embarcaremos nessa semana em nosso 3º módulo fazendo mais um trajeto em nossa viagem programada, iremos explorar agora mais algumas estratégias e técnicas para o desenvolvimento das habilidades e competências.

A Internet proporciona acesso direto às diversas informações existentes. A partir desta constatação, alunos e professores passaram a utilizá-la de maneira indiscriminada, acreditando que, a um simples click, o conhecimento já está formado na estrutura cognitiva do aluno. O copiar e colar tornou-se símbolo de pesquisa e desenvolvimento intelectual. Muito se tem feito para mudar esta realidade. Os ambientes de Ensino a Distância – EAD’s, surgiram como apoio ao ensino e, como toda nova tecnologia de informação, devem ser utilizados com cuidado para não se tornarem mais uma tecnologia de ensino que privilegia a aprendizagem mecânica de conteúdos.

O processo de ensino/aprendizagem denota, na maioria dos casos, um esforço permanente na busca de soluções que facilitem a construção de uma aprendizagem que se torne significativa ao aluno. Neste contexto, as novas tecnologias computacionais estão assumindo um papel a cada dia mais preponderante em relação ao ensino. Surgem novas formas de ensino e, com elas, novas pedagogias para apoiá-las.

O emprego de estratégias e técnicas de análise da informação nos ajudará a segmentar e a organizar a informação, a identificar as idéias principais e a inter-relacionar os conceitos, melhorando a compreensão e a aprendizagem.

A análise é um processo cognitivo unitário composto de MACROPROCESSOS e MICROPROCESSOS. Nossa intenção é radiografar suas principais seqüências e componentes para sua execução. A Análise é um processo que implica em:

RECONHECIMENTO. Através da leitura e da análise dos textos podemos recuperar a informação (dados, conceitos, idéias) e identificar e selecionar as idéias principais.
ANÁLISE. Examinar e decompor a informação em unidades menores que permitam sua compreensão, representação e aprendizagem.
COMPRENSÃO. Entender o significado da informação para poder escrevê-la, esquematizá-la, organizá-la, interpretá-la, hierarquizá-la, relacioná-la e expô-la.
APLICACÃO. Incorporar a nova informação a nossa base de conhecimento para poder usá-la posteriormente.
A competência APRENDER A ANALISAR se divide em:
1. LER PARA APRENDER
2. APRENDER A SEGMENTAR

1. LER PARA APRENDER

O texto escrito é um dos instrumentos mais importantes para a aquisição de novo conhecimento para o que devemos dotar-nos de uma série de mecanismos que nos permitam a partir de um processo de racionamento, construir novo conhecimento. O emprego de estratégias e técnicas de leitura e o desenvolvimento de bons hábitos de leitura nos ajudarão a:
ANALISAR e ORGANIZAR a informação, a identificar as idéias principais de um texto. RELACIONAR os conceitos e INTEGRAR essa nova informação a base de conhecimento que já tínhamos. OTIMIZAR nossa aprendizagem. A leitura é, portanto, um instrumento fundamental dentro desse processo de aprendizagem e requer uma atitude reflexiva, crítica e ativa.

Ler é um ato cognitivo e implica em uma série de etapas:
ANÁLISE: analisar o texto (estrutura e conteúdo) para poder compreendê-lo.
COMPRENSÃO: compreender tanto o sentido do texto como o significado das palavras.
INTERPRETACÃO: captar as idéias e sentimentos que o autor quer transmitir.
TRATAMENTO: tratar a informação utilizando técnicas (resumos, esquemas, mapas...) que facilitem sua posterior aprendizagem.
APRENDIZAGEM: adquirir conhecimento.

Abaixo coloco um trecho do texto da Professora adjunta e coordenadora do Gabinete de Relações Internacionais, Escola Superior de Educação de Coimbra, Susana Gonçalves. (o texto completo encontra-se em Bibliografia)

Aprender a Ler, Ler para aprender: O significado das novas informações não está no texto, mas na interação com as informações relevantes já existentes na memória. Ou seja, aquilo que aprendemos devemo-lo ao que já sabemos.

Quanto mais soubermos (quanto mais relevantes forem os nossos conhecimentos para integrarmos novas informações) mais aprenderemos e mais depressa o poderemos fazer. Este mecanismo, que explica a assimilação do conhecimento, explica, também, segundo Ausubel (et al., 1978), a relação entre a memória e a aprendizagem humana. Segundo este autor, os significados das coisas surgem sempre que se formam estas ligações significativas entre a informação nova (aquilo que se leu) e a pré-existente (aquilo que já se sabia). A aprendizagem dá-se nesse momento, quando a informação nova é assimilada à estrutura existente, ficando ancorada em ideias de suporte no mesmo domínio de conhecimento! Esta interação entre texto e estrutura cognitiva faz também com que o leitor recorde do texto elementos que aí não estavam presentes. Embora isto possa parecer surpreendente, diversos estudos o demonstraram empiricamente (cf., Le Ny, 1989).

Devido a esta dimensão idiossincrática, alguns autores defendem que o texto não possui significado interno (e. g., Collins et al., 1980; Spiro, 1980; Ausubel et al., 1978; Noizet, 1980): o significado é construído pelo receptor, quando compreende (interpreta) uma mensagem. Numa mensagem nunca estão explicitadas todas as idéias do autor. Este tem intenções acerca das quais o leitor tem que fazer algumas inferências, baseando-se no seu conhecimento prévio. Este processo «inferencial» ajuda o leitor a clarificar detalhes não mencionados no texto, lendo nas entrelinhas.

Conhecimento prévio e compreensão da leitura
Vários estudos (cf., Anderson, 1978; Causinille-Marméche e Mathieu, 1988; Dole et al., 1991) mostram que a diferença entre bons e maus leitores não resulta de diferentes capacidades de processamento da informação, mas de diferenças na qualidade e organização dos conhecimentos prévios e nos processos cognitivos e metacognitivos postos em jogo durante a leitura. Da análise das diferenças entre os dois tipos de leitores, sintetizadas no quadro abaixo, podemos concluir que os conhecimentos do leitor e a forma como estes estão organizados têm uma importância fundamental para a compreensão da leitura. Podemos ainda rever aquelas velhas crenças que nos dizem que os leitores são bons ou maus devido às suas capacidades ou aptidões cognitivas. Com efeito, a investigação mostra que esta não é a norma. Indivíduos com capacidades idênticas podem ler de modo qualitativamente diferente, consoante aquilo que já sabem de antemão e o modo como sabem.

Bons leitores
Maus leitores
Classificam e organizam com eficácia os diferentes tipos de problemas que lhes são colocados pelo texto; percebem que estes problemas têm diferentes níveis de abstração. Possuem quadros de representação do texto demasiado gerais, o que lhes dificulta a percepção da especificidade dos diferentes detalhes do texto.
Optam por critérios mais estáveis e coerentes de seleção dos detalhes pertinentes. Selecionam traços de superfície do texto, muitas vezes apenas aqueles que são explicitamente apresentados no texto.
Alcançam um nível de compreensão mais aprofundado e específico, relativamente ao domínio conceitual de que trata o texto. Muitas vezes consideram como relevantes e pertinentes aspectos que efectivamente não o são, confundindo, por exemplo, conteúdos de um dado domínio com outros que não são específicos do domínio conceitual em questão.
Dominam com maior qualidade e em maior quantidade os conceitos específicos de uma dada área de conhecimento. Dominam de uma forma inexata e em menor quantidade conceitos específicos de uma dada área de conhecimento.
Estabelecem relações adequadas (de ordem, dependência, causalidade...) entre conceitos específicos de um dado domínio. Mostram dificuldade em estabelecer relações adequadas entre conceitos, confundindo as suas ligações de ordem, dependência, causalidade...
 

As estratégias de compreensão da leitura

O leitor é um agente ativo, capaz de construir e reconstruir o significado do texto à medida que o lê, através da integração das novas informações com os conhecimentos prévios a elas relacionados, do ajustamento das suas expectativas e da aplicação de estratégias flexíveis que regulam a compreensão do texto através de um controle consciente do ato de leitura. Estas estratégias são o segundo grande fator em que se diferenciam os bons e maus leitores. A literatura tem salientado as seguintes: determinar as ideias principais do texto; sumariar a informação contida no texto; efetuar inferências sobre o texto; gerar questões sobre os conteúdos do texto; por fim, monitorar a compreensão (estratégia habitualmente designada por metacognição).

Reconhecer e determinar as idéias principais

A capacidade de separar os aspectos essenciais dos detalhes é um dos fatores que diferenciam os leitores na sua eficácia e está muito associado à compreensão do texto e à sua recordação posterior. Aquilo que o leitor considera mais importante assume maior relevo no ato de leitura e por isso é mais facilmente memorizado. Como já referimos, os leitores mais eficazes têm maior capacidade de destrinçar e selecionar os elementos importantes do texto e por isso aquilo que guardam na memória resulta de um trabalho seletivo em que o «trigo» já está separado do «joio». Por isso, os elementos mais importantes ficam menos sujeitos ao esquecimento. Os bons leitores procuram avaliar o texto a partir de várias frentes, incluindo o seu conhecimento sobre o autor (tendências, intenções, objetivos...) e usam o seu conhecimento da estrutura do texto para identificar e organizar a informação.

Sumariar a informação

Trata-se de uma atividade mais geral que a anterior. A sumariação implica que o leitor sintetize grandes unidades de texto, condensando as idéias principais e recriando um novo texto coeso e coerente com o original. A função desta estratégia é clarificar as idéias principais do texto e as suas interações.

A sumariação implica o recurso a operações cognitivas como: selecionar umas informações e anular outras; condensar algumas informações e substituí-las por conceitos mais gerais e inclusivos; integrar as informações selecionadas numa representação coerente, compreensível e resumida do texto original (Dole et al., 1991). Ora, estas operações estão altamente relacionadas com o nível de desenvolvimento do leitor. Os estudos (cf., Gagné, 1985; Dole et al., 1991) mostram que embora quase todas as crianças consigam sintetizar a estrutura principal de narrativas simples, as mais novas têm desempenhos fracos na sumariação de texto complexos sobre as mesmas narrativas.

Efetuar inferências sobre o texto

Muitos autores defendem que esta estratégia é o centro vital da compreensão. Ela está presente na leitura de quaisquer textos, dos mais simples aos mais complexos, tanto em adultos como em crianças. A inferência permite chegar a uma compreensão mais aprofundada do que a mera compreensão literal do texto. Compreender um texto implica inferir sobre o que se lê (título, tema, objetivos, enquadramento do texto...), a partir daquilo que se sabe (Anderson e Pearson, 1985; Dole et al., 1991; Andre, 1991; Gagné, 1981). A inferência permite dar coerência ao que se lê, extrair novas informações a partir do que está escrito, evocar informações que devem ser adicionadas ao texto e completá-lo (Van de Velve, 1989).

Ao ler num jornal um artigo de opinião, fazemos inferências acerca das razões pelas quais o autor escreveu o artigo, porque o publicou naquele jornal e não noutro, porque defendeu certos argumentos, porque evocou uns fatos e deixou outros omissos... Fazemos tais inferências a partir de conhecimentos e crenças que entendemos serem relevantes (p. ex., aquilo que sabemos acerca do autor, do jornal e do tema abordado).

Estes conhecimentos são filtrados pelos valores, opiniões e emoções: ao ler podemos sentir-nos irritados, revoltados, divertidos, comovidos, apaziguados,... Sabe-se que os bons leitores avaliam e respondem afetivamente àquilo que lêem, de um modo tanto mais intenso quanto maior o seu interesse sobre o assunto lido (Pressley et al., 1997). Ou seja, fazem uma leitura emocionalmente ativa na qual não se limitam a memorizar automaticamente a informação, mas antes a interpelam a partir de uma posição crítica.

Monitorar a compreensão (metacognição)

A metacognição é a capacidade de estar consciente dos próprios processos de pensamento: é o pensar sobre o pensar, a auto-avaliação que nos permite dizer «estou compreendendo». Durante a leitura, a metacognição inclui dois componentes distintos:

1. Estar consciente da qualidade e do grau de compreensão – este componente implica que o leitor seja capaz de detectar incongruências no texto e de se implicar ativamente na resolução deste problema. Os leitores mais novos, tal como os menos proficientes, têm mais dificuldade em detectar e resolver estas incongruências. Contudo, na maioria dos casos, as incongruências são detectadas quando o conhecimento prévio é insuficiente para se compreender o que se lê («Não percebo. Isto é novo, está relacionado com quê?») ou quando contradiz aquilo que se lê («Isto vai contra o que eu sei acerca deste assunto!»).

2. Saber o que fazer e como fazer quando se descobrem falhas na compreensão – este é um aspecto capital no desenvolvimento da mestria na leitura e uma das diferenças mais acentuadas entre leitores de baixo e de alto nível de mestria.

Conclusão

Os alunos são agentes ativos da sua aprendizagem, são capazes de construir significado e de auto-regular os ensinamentos adquiridos na escola. Os professores, por seu lado, são agentes mediadores desta aprendizagem, mais do que os transmissores de saber estático: eles podem apoiar o aluno, tanto na construção dos significados quanto no desenvolvimento de estratégias que facilitem a leitura e a sua compreensão.

A leitura é um processo de especialização gradual. O seu objetivo é a construção de significado, independentemente da idade e da capacidade do leitor. O que varia entre os diferentes leitores é o grau de sofisticação na capacidade de leitura e a maior ou menor necessidade de apoio por parte do professor (Dole et al., 1991).

O ensino da compreensão da leitura tem um valor formativo no âmbito do desenvolvimento pessoal e social dos alunos, desde as primeiras etapas de iniciação à leitura. A língua escrita é um veículo de comunicação sociocultural que difunde valores, ideologias, conhecimentos sobre o mundo. Através da leitura, o nosso campo de experiências (fonte de conhecimento e desenvolvimento) amplifica-se muito para lá das fronteiras da experiência direta.

O aluno no momento de enfrentar-se com um texto deve ser capaz de conseguir os seguintes objetivos:
• Ser capaz de expressar o conteúdo fundamental da informação lida.
• Adquirir destreza no conhecimento dos textos.
• Desenvolver habilidades que permitam Compreender, Organizar e Avaliar o texto.
• Ser capaz de integrar e relacionar a nova informação com o conhecimento já adquirido.
• Construir o seu próprio conhecimento.

 

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