40
anos depois
"Vim,
tanta areia andei... Da lua cheia eu sei..."
1969...
Parecia
tão longa a estrada percorrida até ali, mas
mal sabíamos que o caminho apenas estava começando.
Éramos uma turma de jovens e pouco nos causou estranheza
o fato do homem ter pisado na Lua pela primeira vez. Tudo
nos parecia possível... O homem quis ir à
Lua e foi... Nós queríamos ser felizes e éramos.
"Vagando
em verso, eu vim..."
Era fácil sair da cama, ir até a escola. Era
bom recortar cartolina, pintar figuras, enfeitar caderno,
fazer cartilha, montar festas, ler jornais para interpretar
manchetes, montar plano de aula, mimiografar atividades
que antes foram datilografadas, pesquisar... (Meu Deus,
nós vivíamos sem computador, sem Internet!).
"Na
mão direita, rosas vou levar..."
Tínhamos muito: a certeza da vocação,
o carinho dos professores (que turma fantástica)...
O cachorro-quente na hora do recreio (tinha sempre alguém
ficando sem a salsicha)... O frio na barriga na hora de
apresentar os seminários... O medo de falhar nas
aulas práticas... Os sonhos... A esperança...
Mas o nosso tesouro mesmo era mágico. Ficava armazenado
na sala bem em frente à diretoria. As peças
tinham olhos azuis, verdes, castanhos e negros... Os cabelos
eram longos, eram curtos, eram lisos, eram crespos, eram
loiros, eram morenos...
De tamanho? Eram altas, eram baixas, eram gordas, eram magras...
Mas nada disso importava. Eram todas as peças de
igual valor.
Eram nossas amigas. Com elas, crescemos, aprendemos. Como
elas, fizemos diários. Para elas, escrevemos longas
cartas. (Que pena! Hoje ninguém mais escreve diário,
nem manda cartas...)
Delas, sabíamos quase tudo. Dividíamos as
alegrias... Chorávamos juntas a cada namoro rompido
(Como adolescente chora!). Saíamos de carro com a
amiga que mal tirara a carta (Como era chique!). Fazíamos
trabalhos em grupo... Muitos trabalhos em grupo - até
sem precisar... Isso nos rendia almoços demorados
e lanches animados, mas o trabalho saía e os professores
nunca se desapontavam com eles.
"Vim de longe, léguas, cantando eu vim..."
E cantávamos... Como era bom cantar... Ouvir o "conjuntinho
cantar"... Saber que o violão estava por lá,
sempre pronto para ser tocado.
"Vou
não faço tréguas sou mesmo assim..."
Seguimos...
Aqui estamos continuando o que nossos pais começaram
por nós: a nossa vida.
Muita coisa não é mais como era - "Uma
saudade imensa..." - mas nossos olhos e nosso sorriso
não nos traem: o tempo não tirou de nós
as lembranças e ainda nos presenteou com a maturidade
(Velhice, não!). Ainda temos a força de seguir
sem parar a nossa tarefa de - através de nossos atos
- ensinar os que nos cercam a ver o mundo com a confiança
que nunca nos abandonou.
"Por
onde for quero ser seu par..."
Par, parceiras, parceria... Não nos perdemos... 40
anos e estamos aqui.
Esses anos não passaram como um rojão... Foram
vividos dia a dia, com tudo o que coube a cada uma. Com
certeza, não foram só risos, mas, seguramente,
cada tempestade serviu para valorizar a claridade do sol.
E aprendemos... Como aprendemos. Pelo caminho, encontramos
amigos que não vimos crescer, e somamos... Encontramos
a nossa metade, para provar que sabíamos dividir
e, milagrosamente, nos encantamos com o multiplicar. Subtrair
pesa-nos hoje porque constatamos que alguém da nossa
turma não está mais por aqui...
"E
jamais termina meu caminhar
Só o amor ensina onde vou chegar..."
A festa de hoje é a prova. O amor cruzou de novo
o nosso caminho e a estrada, felizmente, insiste em não
terminar...
"Me
leva amor..."
Mais um encontro? Sim, queremos!
Que Deus nos conceda essa graça.
Lourdinha
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